Será que a Inteligência Artificial resolve tudo?
Artigo escrito por Fernando Riva e publicado originalmente no portal Olhar Digital.
O número de aplicativos mobile com “AI Chatbot” ou “AI Chat” no título ou descrição aumentou cerca de 1.500% no primeiro quarto deste ano, quando comparado ao ano passado, segundo dados da empresa Apptopia. O boom se deve, claro, ao lançamento do ChatGPT, desenvolvido pela Open AI, e que em pouco tempo se tornou o assunto mais falado pelos CIOs (Chief Information Officer) das empresas.
E essa corrida para desenvolver o melhor produto ou serviço com base em inteligência artificial movimentou empresas do setor. Uma pesquisa da Bain & Company mostrou que a tecnologia é a prioridade para os negócios de mais de 500 empresas com faturamento acima de US$ 1 bilhão, e deve ser implementada nos próximos quatro anos.
Pode parecer polêmico, mas a impressão que tenho é que, hoje, mais do que ser uma empresa inovadora, que está sempre à frente da concorrência, é preciso parecer ser esta empresa. E as organizações viram na Inteligência Artificial uma forma de sustentar essa imagem. E isso não é uma crítica à IA, de forma alguma, mas um convite à reflexão sobre o uso adequado da tecnologia.
Uma viagem no tempo
Sem dúvida alguma estamos passando por uma grande revolução tecnológica. A IA nasceu há 70 anos e já estava presente no nosso dia a dia há algum tempo, com a recomendação de conteúdos no streaming, o reconhecimento facial para o desbloqueio da tela ou até mesmo no assistente de voz. Mas, por mais valor que agregasse, o termo “inteligência artificial” passava quase que batido. As pessoas utilizavam os serviços sem se preocuparem com qual tecnologia estava por trás.
A IA Generativa foi a grande virada. Com ela, qualquer pessoa passou a poder produzir textos, códigos, vídeos e imagens com alguns cliques. Mais do que utilizar a tecnologia de forma secundária no dia a dia, agora qualquer pessoa com acesso à internet pode utilizar a IA para ajudar na redação de um e-mail, a produzir um trabalho escolar ou a criar algum post para as redes sociais.
Empresas de diferentes setores e tamanhos já afirmaram terem feito investimentos para implementação da tecnologia em projetos de diferentes níveis de complexidade e aplicabilidade. Experimentar a nova tecnologia em projetos paralelos, analisar os desafios e mensurar os resultados antes de já redefinir todo o modelo de negócio para se basear em IA é um passo importante.
Em meus 30 anos de experiência, em diferentes momentos da minha carreira, vi empresas investindo em novos produtos ou serviços sem parar para pensar no real impacto e no resultado esperado. O final dessa história era sempre o mesmo: inúmeras ferramentas contratadas, sem que ninguém utilizasse ou até mesmo soubesse o motivo da contratação.
É importante se atentar ao overengineering
O overengineering (super engenharia, em tradução livre) é você construir uma solução tecnológica robusta, cheia de funcionalidades e com mais recursos do que o necessário, elevando os custos de desenvolvimento, manutenção e infraestrutura, e ainda impactando o prazo de entrega. Temos observado essa abordagem com frequência nas empresas, sobretudo após o cenário difícil que o universo tech tem enfrentado, com reduções de pessoas e mudanças de time.
Os benefícios que a IA trouxe para toda a indústria são inegáveis. Mas, por trás deles existe ainda uma série de questões, inclusive de governança, vieses e ética, sobre o uso da tecnologia, sem contar toda a infraestrutura necessária para gestão, leitura e análise de dados, e que não podem deixar de serem consideradas.
Pesquisar, desenvolver novos produtos e testar novas aplicações faz parte do processo de inovação de uma empresa e é essencial para a sustentabilidade de qualquer negócio. O meu alerta aqui é para entender se, de fato, é a inteligência artificial que vai ser a responsável por virar a chave, aumentar a eficiência e até mesmo levar a companhia para outros mercados, antes de mudar todo o seu planejamento.
Fernando Riva é co-CEO da Iteris.